sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Por favor, me mate.

Ele a olhava deitada na cama, seus braços e pernas amarrados. Não podia acreditar que ela estivesse ali. Aproximou-se, passou a mão delicadamente pelos fios de cabelo vermelho, era tão linda. Depois de tanto tempo, tanta luta, finalmente, ele conseguiu. Ela era sua, apenas sua.
-Acorde, meu amor – sussurrou em seus ouvidos.
A garota ruiva abriu os olhos, a visão estava turva, mas aos poucos, se estabilizou. Ela tentou se levantar, mas não conseguiu. Um arrepio varreu todo a sua espinha, estava amarrada. Tentou gritar, mas a boca estava tampada, só conseguiu emitir uns grunhidos. Começou a se debater, tentando se livrar das amarras. Os movimentos machucavam seus pulsos e tornozelos. Ela percebeu que estava despida, o que só fez aumentar o seu desespero. Ela começou a se mexer com mais força. Ele continuava a assistir, sabia que o começo seria difícil.
-Dormiu bem, querida? – perguntou com um largo sorriso.
Os olhos da garota quase saltaram fora de órbita, e ela o viu. Um homem calvo vestido de bermuda, camiseta e boné. Ele estava de pé a poucos centímetros de distância, segurando um copo. A ruiva parou de se mexer. Não, ela não conhecia aquele homem, não entendia por que estava ali, só queria sair. As lágrimas desciam pelo seu rosto.
O homem continuou sorrindo, se aproximou mais, e deu um beijo em sua testa. Um sentimento de repulsa e revolta envolveu o espírito da jovem. Ele deu mais um sorriso, e saiu.
Todos os dias de manhã, ele a visitava. Cumpria o mesmo ritual, aplicava uma injeção no braço da garota, e esperava alguns minutos. Quando o remédio fazia efeito, ele tirava as amarras, e a colocava deitada no chão. Limpava a cama, trocava os lençóis, e lhe dava um banho com uma esponja e um balde de água. Aproveitava do seu estado de sonolência para alimentá-la. No final, colocava-a de volta na cama e a amarrava.
À noite, ele voltava. Gostava de ficar em pé olhando para ela. Alguns dias, quando estava mais ousado, acariciava seu rosto e lhe dava um beijo no meio da testa.
Ah, como ele a amava, e como amava cuidar dela. Sentia que a cada novo dia, eles eram mais próximos, mais amigos, mais tudo. Um dia, ele criou coragem. Queria ouvi-la, já fazia tanto tempo que estavam juntos. Estava confiante que ela já teria aprendido a amá-lo e que em pouco tempo poderiam sair daquele quarto juntos.
Ele acordou, preparou-se todo. Vestiu seu único terno, que havia mandado para lavanderia especialmente para essa ocasião. Foi até ao quarto da garota. Fitou-a com um grande sorriso, acariciou seu rosto, e tirou a fita de sua boca.

A garota estava consciente, olhou para o homem de terno. O mesmo homem que, dia após dia, a mantinha presa naquele quarto imundo. Seus olhos se encheram de lágrimas, ela reuniu todas as forças que ainda restavam em seu corpo fraco, e disse:

-Por favor, me mate.

2 comentários:

  1. achei que teria mas coisa, quando estava ficando interessante acabou.
    As outras estavam melhores.
    acho que se você tentar consegue fazeer melhor.

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  2. Achei muuuuuito legal, tem um pouco de romantismo trágico, sei lá(se é que o romantismo pode ser trágico). Mas preciso ser sincera nenhuma se assemelha com a do 'Fantástico Senhor Abdias'!

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